Meu nome é Ilanajara Guimarães d’Eça, tenho 49 anos, sou farmacêutica/bioquímica, funcionária pública efetiva da Secretaria de Saúde Municipal de São Luís/MA, exercendo o cargo de Farmacêutica e lotada no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência-SAMU-SLZ.

No dia 3 de abril apresentei os primeiros sintomas. No dia 6 do mesmo mês fiz a coleta para PCR, recebendo o resultado dia 14, com a confirmação para Covid-19.

Sem plano de saúde particular e tratando outras comorbidades como hipertensão, diabetes, fibromialgia, síndrome do pânico e dores crônicas, devido a hérnias de coluna cervical e lombar, fiquei, de forma potencial e vulnerável, no grupo de risco, naquele momento da pandemia de Covid-19.

Nesse dia, eu me senti sem chão. Era como se tivesse recebido uma “sentença de morte”. Liguei para uma colega que trabalha no Hospital Universitário, e pedi que não me deixasse morrer, que se precisasse internar, queria que fosse lá e não em outro hospital.

Fiz a primeira TC de tórax no dia 15/04/2020, a qual mostrou comprometimento de mais de 50% dos meus pulmões. O tratamento foi iniciado no mês dia, um pouco tardio, com os seguintes sintomas: respiração ofegante, cansaço, sensação de desmaios, dores de cabeça, dores no fundo dos olhos, sudorese intensa, tosse seca, fadiga generalizada, náuseas, insônia. Nunca tive febre ou calafrios.

No início da pandemia, o Município de São Luís não tinha plano emergencial para covid-19, e nós, profissionais da saúde, ficamos sem aparo quando acontecia o adoecimento. Quem me deu apoio emocional e profissional especializado foram: minha família, os irmãos em Cristo, os colegas farmacêuticos, que se comunicavam diariamente via WhatsApp, meus amigos do Facebook e minha Coordenadora do Curso de Saúde Coletiva-UFMA.

Estava com muito medo quando fui ao hospital e, o profissional da saúde que me atendeu, vendo minha angústia, me receitou a medicação profilática e respeitou meu desejo de primeiro tentar os cuidados em casa, antes de uma possível internação e, do meu maior medo, a intubação.

Diante disso, tinha duas alternativas: sucumbir aos sentimentos de impotência, medo e ansiedade; ou despertar o que há de melhor dentro de mim: minha fé no Todo Poderoso, caminhando para uma luta incansável pela vida. Escolhi a segunda. No fundo do coração sentia que iria sofrer, mas não morrer, com ajuda de Deus.

Tive muitas orientações pelo Disque Saúde do Ministério da Saúde-136. Ficavam comigo por longos períodos, até pelas madrugadas. Eles conversavam, me ajudavam a fazer exercícios respiratórios. O dia que eu não ligava, eles ligavam duas vezes por dia. Alguns amigos me disponibilizaram seus médicos para me acompanhar via WhatsApp.

A doença, como logo se constatou, era traiçoeira. Às vezes, parece que tudo vai melhorar; dali a pouco, há uma recaída. Certa vez, acordei com tanta dor de cabeça que mal conseguia levantar da cama. Atividades como tomar medicamentos, banhar, comer, vestir, etc. eram feitas com ajuda do meu esposo, que sempre esteve ao meu lado e nunca se isolou de mim.

Tivemos momentos de tristeza por conta da enfermidade. Quando meu esposo ia à padaria, por exemplo, muitos saiam, e outros nem entravam. Houve também muita “cobrança”, do tipo: ainda tratando de covid-19 depois desse tempo todo?

Dia a dia minha vida estava diante do Todo Poderoso, como hoje.
Minha recuperação foi lenta e dolorida.

No dia 4/05/2020, fiz segunda TC de tórax, mostrando ainda um comprometimento de menos 25% dos pulmões, com os seguintes sintomas: cansaço, respiração ofegante, fadiga, sudorese intensa, dores de cabeça e, no fundo dos olhos, tosse seca, náuseas, insônia e sensação de febre e calafrios.

Devido à pneumonia instalada, continuei o tratamento com novos antibióticos por mais 7 dias. Após isso, fui encaminhada ao pneumologista. Minha Coordenadora do Curso Saúde Coletiva-UFMA me ajudou, e um excelente médico cuidou e cuida de mim. Ao todo foram 8 tratamentos desde o primeiro, com três médicos alternadamente.

Foi cinco meses até eu retornar às atividades. Após nove meses, no dia 6 de fevereiro de 2021, comecei a sentir novamente os mesmos sintomas da Covid-19. Eu nem acreditei. Passei ainda 72 horas, sem tratamento e, dessa vez, os sintomas foram mais rápidos. O meu médico, pneumologista, interviu e fez um tratamento de ataque, em casa novamente.

Utilizando os medicamentos que para muitos ou “não têm efeito” ou são “são tóxicos”. Costumo dizer: “Fazem mal ao vírus”, “são tóxicos ao vírus“. Continuo me recuperando desta reinfecção.

Graças a Deus, os tempos mudaram. São Luís, em uma nova Gestão Municipal, já conta com Centros especializados em síndromes gripais para atender a população e profissionais.

Fiquei emocionada ao ler, em uma publicação em um grupo de farmacêuticos da SEMUS, o “Protocolo Imediato de combate a Covid-19”, feito pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Muito me emocionei, porque eu, por duas vezes fui salva, primeiro pela permissão de Deus, que abençoou o tratamento, e segundo por ser tratada por um médico, que como um passarinho, sozinho, apaga o incêndio de uma floresta.

Meus médicos, mas em especial meu pneumologista, é uma pessoa de perseverança, coragem e amor à vida. Sempre defendeu esse tratamento desde o ano passado e contra seus próprios colegas, salvou vidas, inclusive a minha.

Uma lição recebida e executada: mesmo em meio ao caos desta pandemia, há lugar na alma para ajudar, seja como for possível; seja pela oferta de um momento de escuta, seja com recursos para pessoas em hipossuficiência econômica devido à crise desta doença, seja com incentivo, uma palavra de fé, esperança e amor.
Louvo a Deus, porque hoje posso ler que o Município São Luís, independente de política, quer salvar vidas! Com o que temos à disposição! Louvado seja Deus!
Abençoado seja o Prefeito, Eduardo Braide;
Abençoado seja Dr. Joel, Secretário de Saúde de São Luís;
Abençoada seja a Dra. Giseli Coutinho, Presidente do CRF-MA e coordenadora de Farmácia da SEMUS, que mais que ninguém acompanhou meus sofrimentos de perto.
Meus sinceros agradecimentos a Deus e a todos.

Dra. Ilanajara Guimarães D’Eca
CRF-MA 1272
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